20 de abr. de 2011

Sem mais erros

 Por que não podemos começar tudo de novo? – suspirou ele ao pé de seu ouvido, segurando-a em um abraço forte que significava desespero e não amor. Nada mais significava amor ali havia um tempo. Um tempo que ela parara de contar para parar de se ferir.

As coisas não deram certo, disse-se, assim era a vida o tempo todo para todas as pessoas do mundo. Dor, sofrimento e novos começos, para então encontrar novas felicidades, novos objetivos. Não velhas histórias começando de novo. O mundo, as pessoas, as ideias, os sentimentos, tudo isso tinha que mudar. Se ficasse sempre na mesma, se nada saísse da rotina, se não existissem surpresas, se tudo fosse sempre igual, o que seria a vida? Um erro repetido e repetido até a porcaria do último suspiro? Separou-se do abraço, deixando a tristeza e as lágrimas de lado, determinada a simplesmente seguir sua vida sem perder-se nos mesmos caminhos errados. Os atalhos não eram apropriados para uma mulher como ela. Estava cansada das escolhas fáceis.

– Porque não se insiste nos erros – respondeu rapidamente, fechando sua mala enquanto o homem que ela um dia julgara ser sua vida olhava-se no espelho com os olhos inchados e vermelhos.

– Não somos um erro – murmurou ressentido. Era ódio que ela ouvia? Ou era acusação? Por que acusá-la de quê, realmente? Ela fizera de tudo para não tomar aquela atitude, mas não aguentava mais fingir.

Não podia mais mentir que estar ali era o que queria, que aquela luta valia a pena. Nada valia a pena se a consequência fosse aquele sentimento de aperto e vazio no peito. Nada, absolutamente nada justificava aquele sofrimento. A dor de perder pras circunstâncias, a dor de ter que ir embora, de ter que dizer a verdade, de ter que assumir a responsabilidade por não ter dado certo. O medo de estar errada, de se arrepender, de nunca mais se perdoar. E a certeza, no fundo, de que o amor acabou.

– Será que você pode parar pra ouvir o que eu tenho a dizer ou é difícil demais? Nós somos um erro, sim. Pode ser que não tenhamos sido no passado, mas no presente somos. E eu não quero mais errar!

– Podemos voltar a ser o que fomos.

Ela riu asperamente. Não, não podiam. As coisas mudam porque as pessoas mudam, e quando as pessoas mudam e as coisas mudam, nada nunca mais é como foi. E ainda bem! Não era difícil entender, mas ele não queria enxergar que já não havia futuro naquela relação, naquela casa, naqueles beijos, naquelas palavras soltas, vazias e às vezes mentirosas! Era antiético mentir para os outros, concluiu, mas era inadmissível mentir para si mesma. Estava farta de mentiras, de conveniência. O mundo estava de cabeça para baixo e doía, doía muito manter seus pés cravados no chão. Um dia, porém, esperava sorrir de toda aquela bagunça. Porque também estava cansada de lágrimas. Queria viver novos dias doces, novas estações floridas, novos sorrisos verdadeiros.

– Não quero ser quem eu fui. Eu quero ser quem sou – suspirou inquieta, dolorida, mas simplesmente aliviada. Menos o peso da Terra em suas costas. Mais sinceridade dali em diante.

Não tente vir, queria dizer a ele, mas o ouviu bater e trancar a porta do banheiro. Não me procure, quase disse, porém entendeu que já havia dor suficiente. Então saiu do apartamento com as malas em mãos e fechou aquela porta de sua vida para sempre.

Foto por *C-Hass em www.deviantart.com


Texto escrito para o Projeto Bloínquês (65ª Edição Musical).



5 comentários:

JhonSiller disse...

Recomeçar é bem dificil.

Ana Stiehl disse...

A vida não é fácil, né? =)

Ana Stiehl disse...

Obrigada! =)

Iorgama Porcely disse...

ÁS vezes o melhor que temos que fazer é fechar uma porta e nunca mais olhar para ela.
Viva aos riscos e desafios \o/

Ana Stiehl disse...

Concordo! =)
Obrigada pela visita, volte sempre. Beijos.