27 de abr. de 2011

Presente de grego

LEIA A CARTA ANTES DE ABRIR O EMBRULHO.

“Pedro,
Isso que te envio, essa carta, esse embrulho, tudo isso é um presente de grego. Quero destruir os muros que nos separam, quero batalhar com você por você e, no fim, quero vencer. Eu sempre quero vencer, você sabe disso. Conhece esse meu defeito, esse fato bobo de eu simplesmente não aceitar “não” como resposta quando o que eu quero ouvir é um “sim”. Não sou doida, não, sei que sorri quando digo isso, mas sabe que é verdade... Eu sou certa, bem certa do que quero. E, que alguém me ajude, eu quero você. Demorei em admiti-lo, demorei a querer sentir isso que estou sentindo. Como disse Clarice Lispector, alguma vez, “Que medo alegre, o de te esperar”. Sinto um frio na barriga, um vazio no peito, mas quando me lembro do jeito que você sorri quando olha para mim... É como se todos os medos nunca tivessem existido. E, ah, me esqueci de avisá-lo, sou mesmo clichê. A boba, a romântica, porém cética. Aquela que acredita no amor, mas tem medo de amar. Você me encontrou. Isso é um fato. A grande pergunta é: você me quer? Você gostou de ter tropeçado em mim? Você sente seu coração acelerar quando me vê? Gosta do meu perfume? Lembra do meu rosto antes de dormir?

Eu tenho esse presente para te entregar, é claro. É um embrulho simples, como eu. E com simples quero dizer sem muito ornamento, sabe, sem uma beleza de encher os olhos, sem os detalhes que tiram o fôlego de todos. Mas quando você olha para esse embrulho, perde o ar? Está curioso, Pedro? Porque eu estaria. Como estava dizendo, não é nada muito chamativo. Mas o que tem dentro significa muito para mim. Quero que tente ver com meus olhos esse presente. Por favor, chacoalhe a caixa. Ouviu alguma coisa?

Abra o embrulho, Pedro. Você é muito inteligente, é sagaz, é esperto, é lindo. Já sabe o que te dou, não é? Ou melhor, o que te empresto, o que te entrego. Não é material, não tem cor, não tem cheiro. Tem sentido, e só, mas isso é muito! É o meu amor. Ele estava guardado em uma caixa que foi aberta por você. Agora lhe pertence. E você tem duas opções, Pedro: feche essa caixa, lacre-a e devolva-me sem nunca, nunca olhar para trás. Ou aceite meu amor e me ame de volta, mesmo sabendo que sou assim, imperfeita, completamente imperfeita. Quando você leu isso, seu coração ficou quente como o meu fica enquanto espero sua resposta? Se sim, parabéns, você está me amando. 
                                                                                                                             Beijos,
                                                                                                                                             Lia.”

Foto por ~ra3iatha em www.deviantart.com


24 de abr. de 2011

Acredite, eu sei

Não é necessário que me explique como é se sentir assim. Não preciso que me diga que sente medo. Ah, medo, ele quase sempre me fez desistir. Só não desisti por causa do medo nas vezes em que lutei ao máximo para não vê-lo. Sabe, às vezes conseguimos enganar a nós mesmos. O inconsciente se encarrega de guardar à sete chaves aquilo que não podemos ou não queremos ou não agüentamos saber. Eu agradeço a ele. Porque sei que tudo está lá; todos os meus pesadelos, todos os arrependimentos, todas as possibilidades, todos aqueles malditos pensamentos... Os que ferem, destroem, transformam, são. Aqueles que vão me mudar, que me mudam, que me mudaram. E a você, também.

Acredite, eu sei. Sei do seu lado mais obscuro, sei que você pensa coisas que ninguém nunca, nunca poderia imaginar. Não se preocupe, eu imagino, é claro, porque gosto de imaginar, mas isso não quer dizer que eu tenha certeza. Nunca terei. Mas ainda assim compreendo, ou tento, ou quem sabe só aceito. Porque sou assim, também. Dúvidas. Sou mais que uma só. Sou várias, sou máscaras, sou diferente a cada eu. A cada segundo. Porque eu mudo. Porque eu amo. Porque eu sonho. Porque a vida muda e estou viva! E você, também.

Conheço esse terror, essas tempestades, esses medos, essas lutas, esses anseios, essas virtudes, e, ah, eu conheço também essas decisões que são tomadas sem serem realmente pensadas; esses erros que são cometidos e depois não podem ser concertados. Porque a culpa sempre será sua, não é? Sempre será nossa. Porque alguém sempre tem a culpa. E você, eu, nós somos alguéns. Ou espero que sejamos. Ser ninguém seria até suportável. Seria insuportável não ser, simplesmente. Então eu sou, só, e tento não tracejar linhas ao redor de mim, para não haver limites para o que vou me tornar. Eu sou hoje, fui ontem e serei amanhã. E você, também?

20 de abr. de 2011

Sem mais erros

 Por que não podemos começar tudo de novo? – suspirou ele ao pé de seu ouvido, segurando-a em um abraço forte que significava desespero e não amor. Nada mais significava amor ali havia um tempo. Um tempo que ela parara de contar para parar de se ferir.

As coisas não deram certo, disse-se, assim era a vida o tempo todo para todas as pessoas do mundo. Dor, sofrimento e novos começos, para então encontrar novas felicidades, novos objetivos. Não velhas histórias começando de novo. O mundo, as pessoas, as ideias, os sentimentos, tudo isso tinha que mudar. Se ficasse sempre na mesma, se nada saísse da rotina, se não existissem surpresas, se tudo fosse sempre igual, o que seria a vida? Um erro repetido e repetido até a porcaria do último suspiro? Separou-se do abraço, deixando a tristeza e as lágrimas de lado, determinada a simplesmente seguir sua vida sem perder-se nos mesmos caminhos errados. Os atalhos não eram apropriados para uma mulher como ela. Estava cansada das escolhas fáceis.

– Porque não se insiste nos erros – respondeu rapidamente, fechando sua mala enquanto o homem que ela um dia julgara ser sua vida olhava-se no espelho com os olhos inchados e vermelhos.

– Não somos um erro – murmurou ressentido. Era ódio que ela ouvia? Ou era acusação? Por que acusá-la de quê, realmente? Ela fizera de tudo para não tomar aquela atitude, mas não aguentava mais fingir.

Não podia mais mentir que estar ali era o que queria, que aquela luta valia a pena. Nada valia a pena se a consequência fosse aquele sentimento de aperto e vazio no peito. Nada, absolutamente nada justificava aquele sofrimento. A dor de perder pras circunstâncias, a dor de ter que ir embora, de ter que dizer a verdade, de ter que assumir a responsabilidade por não ter dado certo. O medo de estar errada, de se arrepender, de nunca mais se perdoar. E a certeza, no fundo, de que o amor acabou.

– Será que você pode parar pra ouvir o que eu tenho a dizer ou é difícil demais? Nós somos um erro, sim. Pode ser que não tenhamos sido no passado, mas no presente somos. E eu não quero mais errar!

– Podemos voltar a ser o que fomos.

Ela riu asperamente. Não, não podiam. As coisas mudam porque as pessoas mudam, e quando as pessoas mudam e as coisas mudam, nada nunca mais é como foi. E ainda bem! Não era difícil entender, mas ele não queria enxergar que já não havia futuro naquela relação, naquela casa, naqueles beijos, naquelas palavras soltas, vazias e às vezes mentirosas! Era antiético mentir para os outros, concluiu, mas era inadmissível mentir para si mesma. Estava farta de mentiras, de conveniência. O mundo estava de cabeça para baixo e doía, doía muito manter seus pés cravados no chão. Um dia, porém, esperava sorrir de toda aquela bagunça. Porque também estava cansada de lágrimas. Queria viver novos dias doces, novas estações floridas, novos sorrisos verdadeiros.

– Não quero ser quem eu fui. Eu quero ser quem sou – suspirou inquieta, dolorida, mas simplesmente aliviada. Menos o peso da Terra em suas costas. Mais sinceridade dali em diante.

Não tente vir, queria dizer a ele, mas o ouviu bater e trancar a porta do banheiro. Não me procure, quase disse, porém entendeu que já havia dor suficiente. Então saiu do apartamento com as malas em mãos e fechou aquela porta de sua vida para sempre.

Foto por *C-Hass em www.deviantart.com


Texto escrito para o Projeto Bloínquês (65ª Edição Musical).



18 de abr. de 2011

~

“Oh mirror in the sky, what is love?
Can the child in my heart rise above?” 
Landslide.

Deitada sob as estrelas, perguntava-se para onde ia aquele tempo que já não vinha, onde estavam as lembranças já esquecidas, porque as pessoas simplesmente iam embora sem avisar. As estrelas não respondem, não tiram dúvidas. A verdade é que grande parte das estrelas que enxergamos já morreram há muito tempo. E os mortos não conversam.

Brilhava acima dela um céu infinito quando finalmente entendeu que a vida era isso: uma busca incessante por respostas. Respostas que talvez nunca fossem encontradas. Mas as estrelas servem como um espelho para quem realmente as vê. O brilho involuntário de quem já não se importa, e mesmo assim embeleza a noite dos homens.

Não, os mortos não falam, mas eles ainda existem, as estrelas são prova disso. Os mortos existem, sim, e que alívio! Porque um dia todos vamos estar mortos, mas ainda vamos poder existir, de qualquer forma, não vamos? Brilhar, iluminar e ser, mesmo sem viver. Isso seria ótimo.

Stars
Foto por ~Tiberius47 em www.deviantart.com

16 de abr. de 2011

Liberte sua mente





13 de abr. de 2011

Precisa-se de dor

A falta de tempo é uma meia verdade. O que acontece é a falta de inspiração e culpamos o tempo por isso. Mas o tempo sempre passa igualmente, todos os dias. E, é claro, o tempo foi inventado por nós, a culpa é nossa, então. A grande verdade é que falta dor. Dor para criar, dor para emocionar, dor para cativar, dor para interessar. É muito bobo escrever sem dor; nada é profundo sem dor. Sentimentos felizes estragam as palavras porque sentimentos felizes não precisam ser compartilhados, é mais uma questão de ego. A dor nos pede, ou nos implora, ou nos obriga a colocá-la para fora. A felicidade, não. Sempre há mais espaço para ela, felicidade nunca é demais, ninguém explode de felicidade. Alguns bons textos podem até parecer felizes, mas procure bem nas estrelinhas: a tristeza está ali fazendo sua parte. Sempre está. Eu diria que a dor me deixou de lado por um tempo, que esqueceu-se de mim, que cansou de brincar comigo, e pode até ser que, em sua grande maioria, ela realmente se foi. Mas sempre há dor em mim. Eu preciso de dor para poder escrever. E simplesmente preciso escrever. Não tem doído o suficiente para que seja ótimo, mas sinceramente tenho aproveitado as férias da tristeza. Porque ela volta sempre mais forte e eu nunca deixei de aproveitar também sua presença. É claro que aqui há dor; não essas dores comuns, essas que nos sufocam até que queiramos gritar, mas há sim, dor, a dor de simplesmente não sentir tanta saudade assim de estar inspirada. Porque estar inspirada dói muito. E, de dor, estamos sempre cheios, não é? Acho que me contento com as pequenas dores de alguém relativamente feliz.

Por enquanto.

3 de abr. de 2011

~

Tente, diziam. Cuide. Sinta. Sorria. Divirta-se sempre. Não desista. Levante-se. Não tem problema demonstrar seus sentimentos, repetiam. Solte-se. Voe. Vibre. Faça o que quiser. Não pense muito sobre tudo. Derrube esses muros que te cercam, pediam. Deixe o coração levá-la aonde quer realmente ir. Retire esse peso dos seus ombros. Viva o presente. Seja intensa. Mostre que você se importa, murmuravam. Ria de qualquer coisa. Não brigue. Não lute por causas perdidas. Ignore, o mundo é mesmo injusto. Por que você simplesmente não deixa ser?, perguntavam. Por que odeia surpresas? Onde está aquela menininha que você foi? Sinto falta dela, reclamavam. Tente trazê-la de volta. Não seja tão insensível. Faça as pessoas à sua volta serem felizes. Sinta o mundo girar sem tentar segui-lo!, exclamavam. Não seja tão egoísta e cheia de si. Deixe o tempo agir. Reze. Acredite no que precisa acreditar. Contos de fadas são reais, brincavam. Espere o seu príncipe. E quando tiver certeza de tê-lo encontrado, nunca o deixe ir. Não procure respostas para todas as perguntas, sentenciavam. Procure pelas perguntas, mas chute de vez em quando. Não tenha tanta certeza do que diz. E, às vezes, por favor, não diga o que pensa; as pessoas não entendem isso direito.

Tudo bem, ela respondia simplesmente. E, algumas vezes, deixava o orgulho de lado para tentar seguir os conselhos que considerava mais sábios. Ah, menina boba, quis se curar de seus defeitos, ser toda perfeição. Escutou os outros lhe dizerem o que devia fazer e fez. Mas e o conselho mais importante do mundo, o único conselho que as pessoas deveriam realmente dar umas às outras? – aquele que se resume a duas palavras, mas que quer dizer infinitas coisas! Só um “Seja feliz!” e pronto. Esse conselho simplesmente não lhe foi dado. E agora ela está aqui, sendo o que esperam que ela seja, mas sem sua essência, vivendo em contradições. Em ruínas por ter que sorrir.

"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso.
Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro."
(Clarice Lispector)