23 de dez. de 2010

Talvez

"Maybe we were victims of all the foolish plans [that] we began to devise"
This Ain't Goodbye - Train

Ela gostaria de ser inconsequente, ter coragem para não planejar, não ter medo de surpresas. Mas era uma parte sua que não controlava. Via as pessoas sorrirem com o inesperado e até esperá-lo, invejá-lo, cobiçá-lo. Não ela. Tudo devia ser planejado. Tudo devia ser uma ideia muito bem pensada para acontecer. Era um erro lutar para decifrar a vida, ela sabia, pois decifrar o indecifrável não parecia lá muito simples, e cada erro que cometia, cada tombo, ela julgava ser culpa de sua vulnerabilidade sobre as variáveis que a cercavam. Como controlá-las? A resposta nunca chegaria, pois não existia resposta. Simplesmente não se controlam as coincidências. Sempre optava pelo que pensava ser o melhor caminho, o que lhe reservaria menos dor, menos perigo. E então caia, de novo, e sequer entendia onde cometera o erro. Ela não percebia, no entanto, que seu pior erro era fugir da realidade em busca de algo inexistente, algo inalcansável, uma utopia que ela criara na esperança de se proteger da própria vida.

Esta que passou sem muitas histórias para contar. Ela tinha, na boca, o gosto amargo de não poder se afastar das dores do mundo. Mas seu coração continuava intacto atrás dos muros que levantara.


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