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9 de fev. de 2012

Eu quis precisar de alguém

E isso é tudo. Não resta mais nada a dizer. Querer precisar não significa que, qualquer dia, realmente precisei de você. E hoje já não quero precisar. Isso é simples, não deveria doer, então desculpe-me se dói. Mas não sinto nada, e se não sinto, como posso pensar que isso vale a pena? Isso, tudo isso pelo que passamos, todas as perguntas sem respostas, todos esses "talvez", que ficam martelando em nossos ouvidos enquanto não sabemos como agir... Nada disso vale o transtorno. Sinto-me incomodada, nada mais que isso. Deveria me sentir abatida? Ou triste? Ou com medo de errar e me arrepender? Desculpe, não me sinto assim; só sinto que a coisa certa a fazer é não querer precisar de você, nem de ninguém. O problema sou eu e essa minha mania chata de querer sempre mais do que posso ter. Sempre me engano, dizendo a mim mesma que me importo com as pessoas, que me importo com você... Mas a verdade é que só me importo comigo, e tenho estado perdida de mim ultimamente, tentando tanto não perder ninguém. 

Decidi que quero, com prazer, perdê-lo. E me encontrar de volta, sabe, precisar de mim. Eu quis precisar de alguém e sinceramente sou a pessoa mais importante, devo me bastar, devo precisar só de mim. Quis que as coisas não fugissem do controle, quis mais do que posso explicar que tudo desse certo. Mas querer nunca é o suficiente. Arrisco-me a dizer até que, quando queremos tanto como eu quis, é que as coisas acontecem exatamente do jeito oposto ao desejado. Eu quis desenvolver qualquer sentimento por você, quis enxergar nas poesias o seu rosto, ouvir sua voz em cada música... Então acho que posso ser perdoada?!

Sei que descobrirá mil maneiras de deixar isso pra lá, afinal você não precisa de mim também, tenho certeza. E você vai conseguir, sabe, olhar para mim sem me odiar por ser tão fria. Não somos certos um para o outro, está tudo tão confuso... E drama demais faz mal. Não preciso de você. E viver nossa história só valeria a pena se eu precisasse. Então até logo, seja feliz, vá em frente, desista de mim. Nunca houve nada pelo que sofrer. Nunca há nada pelo que sofrer.

19 de jul. de 2011

Tarde demais

De Débora Vargas
Para Arthur Siciliano

21/06/1999

Para você é tão fácil esquecer. É tão fácil perdoar. Não posso entendê-lo. Juro, juro, é tudo tão confuso. É como se, quando nos falássemos, todas as minhas certezas se fossem. Você traz perguntas à minha mente que não sou capaz de responder. E quando você demora para responder essas cartas meu coração se aperta de saudade, de ciúme. Dói muito, sabia? Quando você consegue viver sem mim, dói. E eu sei que consigo viver sem você, mas não queria. Porque somos perfeitos juntos, porque você é perfeito para mim. Ou era. 

Arthur, você é um bobo! Foi embora por escolha própria atrás de um sonho impossível e o está alcançando! Mas você está me perdendo, também. Isso não é ruim? É ruim para mim. Porque eu espero um, às vezes dois meses para receber uma carta sua dizendo que sente saudades. Se sentisse realmente por mim a saudade que sinto por ti, não conseguiria ficar sem escrever por tanto tempo.

E eu sei, não sou boba, sei que conquistou outras meninas com a sua inteligência e com o seu jeito. Com seus olhos. Que já foram meus, mas que já não são. Quando você foi, por que não pediu aquilo que qualquer homem apaixonado pediria? Por que você não disse para mim, assim, com aquele seu jeitinho aloprado e certo de tudo: "Vamos fugir?" Faltou o quê? Faltou eu dizer que te amava? Mas você sabia, eu sou louca por tudo o que você faz, aceito todas as suas loucuras, me agarro às mais bobas certezas só para ter você ao meu lado! Era absolutamente claro que te amava! E, mesmo assim, preferiu ir sem mim. Em busca do sonho que eu sempre disse para você sonhar. Em busca de algo que eu obviamente te ajudaria a conquistar. E agora estou aqui, enlouquecendo de saudades e de dúvidas e dizendo esse monte de coisas que eu nunca me julguei capaz. Estou me humilhando.

E, sabe, agora é tarde. Eu fugiria com você sem pestanejar. No passado. Agora não há qualquer mínima chance de eu desistir de tudo por alguém que nunca desistiu de nada por mim. Não vamos mais fugir, nunca mais. E, por mais que doa, meu coração não será mais esmagado pela sua indiferença. Não mande mais cartas.

Eu estou fugindo, sim. Mas é de você. E de todas essas feridas que você sempre abre com a inquietante frieza de suas palavras, mesmo que inconsciente. Não significo mais muito para você. E estar sozinha pode ser triste, mas é mais triste ainda amar e não ser amada o suficiente. Não aceito mais metades. Quero tudo que é meu. Se você não é, fujo. E vou atrás da felicidade.

Com carinho,
Débora.

Foto por  `gilad em www.deviantart.com

27 de abr. de 2011

Presente de grego

LEIA A CARTA ANTES DE ABRIR O EMBRULHO.

“Pedro,
Isso que te envio, essa carta, esse embrulho, tudo isso é um presente de grego. Quero destruir os muros que nos separam, quero batalhar com você por você e, no fim, quero vencer. Eu sempre quero vencer, você sabe disso. Conhece esse meu defeito, esse fato bobo de eu simplesmente não aceitar “não” como resposta quando o que eu quero ouvir é um “sim”. Não sou doida, não, sei que sorri quando digo isso, mas sabe que é verdade... Eu sou certa, bem certa do que quero. E, que alguém me ajude, eu quero você. Demorei em admiti-lo, demorei a querer sentir isso que estou sentindo. Como disse Clarice Lispector, alguma vez, “Que medo alegre, o de te esperar”. Sinto um frio na barriga, um vazio no peito, mas quando me lembro do jeito que você sorri quando olha para mim... É como se todos os medos nunca tivessem existido. E, ah, me esqueci de avisá-lo, sou mesmo clichê. A boba, a romântica, porém cética. Aquela que acredita no amor, mas tem medo de amar. Você me encontrou. Isso é um fato. A grande pergunta é: você me quer? Você gostou de ter tropeçado em mim? Você sente seu coração acelerar quando me vê? Gosta do meu perfume? Lembra do meu rosto antes de dormir?

Eu tenho esse presente para te entregar, é claro. É um embrulho simples, como eu. E com simples quero dizer sem muito ornamento, sabe, sem uma beleza de encher os olhos, sem os detalhes que tiram o fôlego de todos. Mas quando você olha para esse embrulho, perde o ar? Está curioso, Pedro? Porque eu estaria. Como estava dizendo, não é nada muito chamativo. Mas o que tem dentro significa muito para mim. Quero que tente ver com meus olhos esse presente. Por favor, chacoalhe a caixa. Ouviu alguma coisa?

Abra o embrulho, Pedro. Você é muito inteligente, é sagaz, é esperto, é lindo. Já sabe o que te dou, não é? Ou melhor, o que te empresto, o que te entrego. Não é material, não tem cor, não tem cheiro. Tem sentido, e só, mas isso é muito! É o meu amor. Ele estava guardado em uma caixa que foi aberta por você. Agora lhe pertence. E você tem duas opções, Pedro: feche essa caixa, lacre-a e devolva-me sem nunca, nunca olhar para trás. Ou aceite meu amor e me ame de volta, mesmo sabendo que sou assim, imperfeita, completamente imperfeita. Quando você leu isso, seu coração ficou quente como o meu fica enquanto espero sua resposta? Se sim, parabéns, você está me amando. 
                                                                                                                             Beijos,
                                                                                                                                             Lia.”

Foto por ~ra3iatha em www.deviantart.com


30 de mar. de 2011

Lembre-se bem

Cara Mariana,

Lembrei de você. Você achou que eu havia lhe esquecido? Lembro de você a todo o instante, na verdade, mas de alguma forma tinha que começar esta carta. É claro que eu gostaria de lembrar mais. De cada traço do seu rosto, sabe, e do cheirinho que você tem. Queria lembrar de como a vida é linda quando se há um motivo para viver. Eu queria ter lembranças para contar a você agora, para tentar lhe provar que tudo o que eu fiz foi por amor. Mas não posso mais mentir. Eu te amava, é claro, e te amo com todas as minhas forças – mas escolhi a mim mesma. Agora sei, no entanto, que só sobrevivi todos esses anos, não vivi. Sobreviver é fácil e você já é uma moça, deve saber disso. Viver intensamente é que é difícil. É difícil desistir de velhos sonhos para construir novos. E é difícil pensar antes de agir. Todos pensam que viver é só arriscar, só ouvir o coração, mas não é. Viver é escolher, o tempo todo. E as escolhas quase sempre devem ser bem pensadas. As conseqüências são cruéis, às vezes. Elas destroem quem somos e o que queríamos ser. Deitada nesta cama de hospital, sozinha, sei que a única pessoa que poderia me amar incondicionalmente me odeia. E com razão.

Eu te considerei um erro de percurso e, querendo ou não, você foi, Mariana. No entanto, foi o erro mais lindo que cometi. E o único do qual não me arrependo. Quando você nasceu e eu olhei nos seus grandes olhos ingênuos, eu te amei. Amei-te tanto que não pude suportar. É um erro que pessoas como eu, medrosas, cometem. Têm medo de amar sem medidas. Agora eu estou morrendo. Fisicamente. Porque uma parte de mim já está morta há 18 anos, desde que lhe deixei nos braços de seu pai e fugi. Eu corri durante dias, você sabia? Meu coração estava tão apertado! E mesmo assim não soube perceber que tinha tomado a decisão errada. E eu nunca voltei para perto de você. Foi o medo de não lhe merecer e o costume de estar só que me fixaram longe do seu caminho. Sabe, eu mereço sofrer. E mereço morrer sozinha. Você pode me odiar. Eu fui horrível, fui egoísta, fui fraca. Mas lembro de você. Nunca poderia esquecer. Porque você tem sido o meu motivo para sobreviver. Eu queria ter vivido, Mariana. Gostaria de ter sido uma mãe para você. Mas o que me resta é aguardar o descanso.

Torço para que a morte seja um sonho lindo. Se isso se realizar, vou sonhar o resto da eternidade com você. Seria o meu maior presente. Lembre-se bem disso.

Carinhosamente e com muito amor, sua mãe.

I miss you
(foto por ~Smiliess em www.deviantart.com)



Texto escrito para o Projeto Bloínquês (36ª Edição Cartas).

20 de mar. de 2011

Socorro, Desconhecido!

Eu me perdi. Nesse mar revolto, nessas ondas tristes. Estou em uma ilha, preso e sem alimento, com sede. Não posso beber dessa água. Você pode me ouvir? Porque meu silêncio é um grito preso na solidão de estar perdido. Porque a maré luta contra mim quando eu nado em busca de encontrar. Encontrar o quê? Já nem sei. Você não entenderia. Eu busco algo que não faço ideia, mas é um algo daqueles que, quando aparece, simplesmente se sabe.

Infelizmente não sei se existe algum eu. Perdi-me de mim. Pode me ajudar? Socorro, por favor, eu me quero de volta. Quero o menino que fui, quero as lembranças do que vivi. Eu vivi? Ah, esse mar do esquecimento!, tão cheio de si, acha que pode fazer eu me desencontrar. E eu, tão ingênuo, subestimo-o, porque ele pode. Onde estou? Eu  me perdi ou nunca me encontrei? Mas você não me encontraria, de qualquer modo, já que começo a pensar que morri. Ei, você, acha que ainda vivo? Porque eu nem consigo me enxergar mais nessas linhas que escrevo incessantemente no vento, esperando que alguém as leia enquanto são levadas de mim. No entanto, desconhecido, não posso mandar meus agradecimentos porque desta ilha desesperada já não saio. Porque não sou mais dono do meu eu, que se foi. Falando nisso, estou me procurando, você tem me visto por aí? Porque não posso me alimentar sem mim, porque não posso beber sem mim e muito menos viver sem mim. Então estou morto. Ou nunca estive vivo.

                                                 Alguém ou Ninguém.

S.O.S
(foto por ~tuncaycetin em www.deviantart.com)

2 de mar. de 2011

Olá

Querido Miguel,

     Olá. Não vou perguntar como está. Tenho visto nas manchetes em jornais, revistas e internet. Sei que está muito bem, muito melhor que quando fui embora. Mas eu devo perguntar se já superou sua separação com Daniela. É meu dever, como sua melhor amiga, ou ex-melhor amiga, já que você não responde minhas cartas. Sei que parti seu coração. Sei também que não consegue me perdoar. Fico pensando se pega minhas cartas antes de dormir e as relê, travando uma batalha interior sobre respondê-las os ignorá-las. Gosto de pensar que sente vontade de dizer algo para mim, de talvez me telefonar... Mas também o conheço desde me entendo por gente e lembro que, se quisesse fazê-lo, já o teria feito. Essa é a trigésima terceira carta que te mando neste ano. Gostaria que reconhecesse minhas tentativas.
The letter
( por *yaamas em www.deviantart.com)
     Estou desistindo. Você sabe disso. Sabe que é difícil, para mim, ignorar sua indiferença. Talvez essa seja minha última carta destinada a você. Não sei mais o que dizer ou como explicar minhas atitudes passadas. As outras cartas são repletas de lamentos e explicações, tentativas toscas de expressar como quero que acredite em minhas palavras. Sei que, ao lê-las, sai um riso amargo por entre seus lábios. Mas sei também que você as lê. Lê todas, mesmo que não as responda. Sei que seria incapaz de armazená-las em uma gaveta qualquer sem saber o que digo. Eu já disse que me arrependo de tudo o que falei, e de ter ido embora, e de ter pedido que escolhesse entre minha amizade e sua noiva. Lembro-me de todas as palavras duras e as acusações bobas que saíram de minha boca. Vi a dor nos seus olhos e tenho esperanças de que tenha visto a dor nos meus, também; assim saberá que palavras ditas no calor do momento podem ferir, mas nem sempre são sinceras.
     Eu disse que te odiaria se casasse, querido, mas foi tudo uma grande mentira. E também foi egoísta. Eu devia estar ao seu lado, ser sua madrinha, sorrir de felicidade porque você estava sorrindo. Simplesmente fiz tudo errado conosco, com o que éramos... E olhe o que me tornei: uma pessoa que escreve cartas para outra que nem as responde!
     Pensando bem, continuo sendo a mesma boba que fui, só que com um pouco menos de dignidade. É sua última chance de aceitar minhas desculpas, Miguel, é a última carta que lhe escrevo. Se for ignorada, vou entender como um adeus. Só não finja que não quer dizer olá.

Tenho saudades e odeio admiti-lo. Beijos e cuide-se.
                                                                    Alice. 

Texto feito para o Projeto Bloínquês, 32ª Edição Cartas



Nota: 9.9.
Comentário do avaliador:  "A ganhadora se destacou pela criatividade com a qual usou o tema proposto. Fica a dica! Surpreender é a melhor forma de vencer." (Vinícius Ferrari)